segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Frio

O dia estava cinzento. Pequenos blocos de gelo formavam um tapete irregular sobre o asfalto e a grama em frente às casas. Uma neblina densa e fantasmagórica tomava conta da região. A única coisa que parecia minimamente viva nesta paisagem era aquele homem de casaco cinza, gorro preto e cachecol, que deixara a mercê do frio apenas dois olhos lacrimosos e um nariz avermelhado.
Neste mesmo momento em que sentamos em nossas poltronas defronte as janelas para observá-lo, ele está pensando sobre como, por mais que se cobrisse dos pés a cabeça, o frio parecia nunca ficar de fora. Ele vinha através das gotículas de chuva que penetravam suas roupas de lã. Vinha através do vento que chicoteava a parte exposta do seu rosto. Vinha através da neblina que parecia contaminar o ar que ele respirava, congelar seu coração, se espalhar pelo seu corpo e chegar até a sua alma.
O que ele não percebeu, nem você que está observando, é que ainda mais cruel e inexorável era o frio que vinha dele mesmo e nele se instalava.