sexta-feira, 18 de março de 2011

Final Alternativo

Chovia. Duas pessoas andavam na rua, seguindo em direções opostas.
Olívia era uma típica boa moça. Responsável e virtuosa, seguia um código de ética inabalável. Tinha tendência a amar cada grão de poeira existente no universo, e era atraída por tudo o que fosse minimamente peculiar. Fascinava-se por coisas simples, surpreendia-se com coisas bobas. Era uma artista, sonhadora, embora nunca esperasse realizar nada; era realista também, e evitava riscos desnecessários. Gostava de planejar e ter tudo sob controle. O sorriso nunca ausente de seu rosto não deixava transparecer a existência dividida, a alma sonhadora no corpo racional.
John era um cara atormentado. Tinha suas prioridades e fazia suas próprias regras a partir delas. Era obsessivo com a verdade, queria saber como tudo e todos estavam ao seu redor. Precisava abrir e fuçar cada átomo de ação e sentimento para ver como funcionava. Via o mundo como ele realmente era, sem máscaras nem maquiagens. As pessoas costumavam dizer que isso tirava toda a graça da vida; ele costumava considerá-las covardes. Mas isso também o fazia solitário, amargurado e desencantado com o mundo.
Naquele dia, eles trocaram um sorriso e continuaram por seus caminhos.
Um mês depois se encontraram no ônibus, e por algum motivo estranho começaram a conversar. Ela jurava que o conhecia de algum lugar, ele alegava que se a tivesse visto antes, certamente lembraria. Descobriram muitos amigos em comum, trocaram contatos, sentiram vontade de se ver mais vezes. E quanto mais se conheciam, mais precisavam se conhecer. E quanto mais se conheciam, mais brigavam. Ele a achava ingênua, ela o achava triste. Ele queria abrir-lhe os olhos para o mundo, ao mesmo tempo em que invejava a felicidade que sua ingenuidade lhe conferia. Ela queria consolá-lo e deixa-lo feliz, mas era constantemente ferida por seu sarcasmo e desilusão.
Depois disso eles se afastaram, se aproximaram, se tornaram amigos relutantes. Se apaixonaram, se afastaram de novo, juraram nunca mais se ver.
Ele a procurou. Ela fugiu. Tentou seguir em frente, descobriu que não podia. Não podia, porque não queria. Cedeu. Ele hesitou. Sabia que a acabaria magoando. Ela insistiu, ele se deixou convencer.
Eles se entregaram: decidiram que precisavam arriscar. No começo era tudo perfeito, mas dois gênios tão incompatíveis não podiam deixar de brigar. Ele tinha medo de se deixar ser feliz. Ela sentia isso, e fazia de tudo para ultrapassar essa barreira. Ele se odiava por não conseguir deixar de recuar.
Ele decidiu dar um tempo. Ela sentiu que era um adeus, e já estava cansada dessas idas e voltas. Resolveu acabar com tudo e seguir em frente.
Ficaria bonito para os efeitos deste texto se eles nunca mais se vissem, sendo obrigados a seguirem com suas vidas e a arranjarem outro jeito de ser feliz. Ficaria bonito e inicialmente era essa minha intenção, mas eles se recusaram a ceder ao destino traçado na mente desiludida desta narradora que vos fala.
Assim, ao se cruzarem novamente na rua algum tempo depois, ela o obrigou a parar. Depois de  cumprimentos vagos e um minuto de silêncio constrangedor, Olívia declarou:
- Senti sua falta.
Ele concordou com a cabeça, constrangido. Ela tentou disfarçar as lágrimas que inundaram seus olhos. Ele as viu, e percebeu que tinha causado tudo o que tentara evitar.
- Eu só estava tentando te proteger.
- Eu só estava tentando te fazer feliz.
- Eu fiz tudo errado.
- Você sempre faz tudo errado.
Seus olhos se encontraram diretamente pela primeira vez desde que tinham terminado. Ela não pode evitar sorrir, percebendo que o que gostava de ver naquele olhar ainda estava lá. Começou a chover. Ele perguntou se ela precisava dividir o guarda chuva, e a chamou para tomar um café.
Eles voltaram aos poucos, depois voltaram de vez, brigaram mais do que nunca e aprenderam a pedir desculpas. Foram se adaptando um ao outro. As discussões foram se tornando menos sérias. Viveram, aprenderam e foram felizes.
A intenção inicial deste texto era que John e Olívia se conformassem e superassem seus problemas. Mas eles se recusaram a se conformar, e decidiram lutar contra as diferenças e a improbabilidade de ficarem juntos. Decidiram lutar pelo que sentiam, e mesmo tendo tudo para dar errado, eles se amavam, e só dessa vez, só nesse texto, isso era tudo o que importava.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Bla Bla Bla

Há uns dois anos eu comecei a escrever em um blog. Foi assim, sem saber direito que rumo ia tomar. Eu apenas queria escrever. Dessa forma, meu antigo blog nunca adquiriu uma característica própria. Os textos mais humorísticos sobre coisas do dia a dia ficaram alternados entre contos dramáticos e sombrios, e uns textos mais elaborados e reflexivos. E isso, ao meu ver, atrapalhava o tom do blog.
Foi assim que resolvi excluir o Describing Colors e criei o O-Bla-Di-O-Bla-Da, que é onde eu falo sobre o cotidiano, e alguns meses depois criei este aqui. Foi mais demorado por uma questão de nomes. Queria manter o tema Beatles, mas não encontrava nada que não tivesse sido usado antes.  Look At All The Lonely People veio da música Eleanor Rigby, e foi escolhido porque a maioria desses meus textos são inspirados em pessoas que observo no ônibus.  Se é um bom nome ou não, minha modéstia me impede de opinar (na verdade, é perfeito).  Mas vamos parar de falar de nomes e partir para assuntos práticos.
Pretendo repostar aqui alguns dos meus antigos textos, os meus preferidos, devidamente editados. E óbvio que terão novos textos. A frequência de postagem varia totalmente com meu humor, inspiração e semana de provas. Há épocas em que fico com formigas nos dedos e coloco um texto por dia, e há épocas em que fico um mês inteiro, e nos casos graves, meses inteiros sem postar. Isso me fez perder muitos dos meus leitores antigos, eu sei, mas espero que consiga reconquistá-los algum dia.
E por último, eu tenho que pedir: por favor, não reparem a bagunça. Desculpem o layout sem graça e padronizado. Prometo que um dia arrumo, mas estou sinceramente sem tempo (e já não tenho muitas habilidades nessa área), e não via a hora de começar com o blog.
E isso é tudo, pessoal.