Ela
estava linda.
Ele não estava preparado para vê-la, ainda mais tão
linda. O coração apertado, o nó na garganta, o fizeram perceber o quanto sentia
falta dela. E ela, cruelmente indiferente, conversava e ria feliz em uma
rodinha de amigos, já meio vermelha graças a duas capirinhas. Ele suspirou,
sentindo que morreria pela oportunidade de fazê-la rir daquele jeito, e teve
ciúmes de todos aqueles que tinham o direito de conversar e se divertir com ela
sem que isso gerasse situações constrangedoras.
Sentiu-se tentado a se juntar na rodinha de amigos, mas conteve-se. Ele sabia que o tempo deles havia passado. Sabia que a havia
magoado, e que ela não iria querer falar com ele. E percebeu, com o aperto no peito
se intensificando, que ela seguira com sua vida e estava feliz, talvez até mais
do que quando eles estavam juntos. Assim, fez o contrário do que queria seu
impulso: sentou-se de costas para ela, numa tentativa de evitar ficar encarando-na,
pediu um chopp e tentou genuinamente divertir-se, mas as gargalhadas vazias
apenas ecoavam seu vazio interior.
Ele se enganara, no entanto, ao achar que ela não havia lhe
notado. Ao contrário, ela bateu os olhos nele assim que ele chegara, pois
estava virada para a porta. Seu estômago se revirou e suas pernas ficaram
bambas enquanto ele abria um sorriso radiante para cumprimentar um amigo.
Fingiu não notá-lo, porém, pois não queria demonstrar o quanto estava
perturbada com sua presença. Mas por mais que se fizesse de indiferente, seu
coração parecia uma escola de samba quando percebeu que ele a encarava. E ela
ria forçadamente, de alguma piada que não tinha ouvido direito, enquanto se
perdia em um conflito interno entre ir falar com ele ou esperar que ele viesse.
Mas, afinal de contas, ele a havia magoado, ele é
quem devia vir.
Ela esperou. Ele não foi. Sentou-se de costas, como se
quisesse mostrar o quão desimportante ela era. Ela mordeu os lábios, segurou as
lágrimas e pediu mais uma caipirinha, tentando preencher com álcool o vazio que
a expectativa lhe deixara.
Os dois voltaram para a casa aquela noite desiludidos, carregando
nos ombros toda a carga de saudade deixada pelos bons momentos, oprimida pela mágoa
que foi deixada pelos ruins, e ainda repleta de assuntos mal resolvidos. E assim,
celebrou-se a vitória da covardia e da falsa indiferença sobre a sinceridade e
a possibilidade de reconciliação, terminando com a morte de tudo de bom e de
ruim que poderia ter sido. Ao menos naquela noite.