quinta-feira, 24 de novembro de 2011

A Luz dos Olhos Dela

“Nós nos conhecemos no ponto de ônibus. Eu a via todos os dias de manhã. Ela estava sempre com os fones de ouvido, olhando para o além. Seus olhos eram muito interessantes, redondinhos, de uma cor indefinida entre verde e azul. Às vezes pareciam verdes e brilhantes, às vezes azuis e profundos. De qualquer forma eram adoráveis. Até insuportavelmente adoráveis. Eu quase poderia comê-los...”
- Comê-los?
- É. E ela era tão bonita. Quer dizer, quando estava lá fitando o vazio não parecia grande coisa, mas às vezes ela dizia “bom dia” com um sorriso... quando ela sorria, ficava completamente estonteante...
- Desculpe, mas você disse algo sobre vontade de comer os olhos?
Ele pareceu atordoado, como se acabasse de acordar de um devaneio.
- O quê?
O doutor se inclinou para frente, franzindo o cenho.
- Você comeria os olhos dela?
O paciente, confuso, respondeu com uma careta.
- Claro que não.
- Como você está encarando o seu desaparecimento?
Agora o paciente pareceu genuinamente perdido.
- Desaparecimento de quem?
-
Ao chegar em casa, a primeira coisa que ele fez foi constatar que seu par preferido de globos oculares ainda estava lá, bem conservado. Aliviado, gastou um tempo admirando-os e depois foi dormir alegre e sem preocupações.