Seus olhos se abrem. Não querem,
mas se abrem.
Um suspiro involuntário manifesta
a frustração de sua alma por ter o descanso interrompido. A mão direita tateia
o criado-mudo, procurando cegamente desligar o berro matinal do espirito
agourento que mora ali em cima. Por um momento, parece impossível se mexer mais
que isso. No momento seguinte, o sentimento piora. O mundo inteiro está sentado
em seu tórax, comprimindo-o sobre a cama, fazendo com que cada fibra de seu ser
proteste contra o ato de levantar.
Mas há algo que o impede de ficar
estático. Algo como o senso de honra de um cavaleiro arturiano. Sua honra não
lhe permite permanecer deitado, tanto quanto a honra de Sir Lancelot não o
permitiria entrar com vantagem em um combate.
Isso, no entanto, não é bem
verdade, ou é? Sir Lancelot, afinal de contas, era o melhor cavaleiro do mundo,
portanto sempre estaria com a vantagem. Assim como nosso guerreiro, apenas por
ser quem é, não poderia agir de outra forma que não se pôr de pé e seguir a
vida. Talvez não seja certo então falar em honra, já que não existe realmente
uma escolha.
Contudo, quando ele enfim
consegue se sentar e sente o Mundo sendo transferido do tórax para os ombros, a
vontade de desistir é arrasadora. Opressiva. Esmagadora
Assim, não deixa de ter um quê de heroísmo o
ato de finalmente pôr o peso do corpo sobre os pés no chão.
E então, heroicamente, ele
levanta. Estoicamente, ele vive.
Deixa sua fortaleza arrastando os
pés com mais ou menos o mesmo ânimo de um cadáver, pronto para passar por mais
um dia que, como boa parte de todos os outros, não fará a menor diferença no
resto de sua vida.
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